A biomimética é uma corrente de design inteligente que proporciona maior eficiência e funcionalidade dos ambientes. Assim, atinge-se melhor desempenho energético e maior integração com a natureza, com a redução de impactos negativos no meio ambiente

 

A natureza é uma verdadeira obra de arte. O modo como ecossistemas e organismos são constituídos é grande fonte de inspiração para o desenvolvimento de tecnologias: seja em química, biologia, medicina, agricultura, no ramo de transportes e até na arquitetura. Essa inspiração na natureza é chamada de biomimética (entenda mais aqui).

Na natureza não existe lixo… Todos os resíduos voltam para a cadeia de forma harmônica e os organismos adaptam sua forma à função, otimizam o uso, promovem a reciclagem e não praticam o desperdício.

O ser humano tem inteligência, mas em diversos quesitos não leva uma vida que colabore para a sustentabilidade do planeta e de sua própria existência. Soluções baseadas na inteligencia da natureza desenvolvida por milênios, a biomimética, são uma abordagem inovadora para enfrentar os desafios cotidianos de maneira sustentável.

A ideia central é de que a natureza já resolveu muitos dos problemas que estamos enfrentando. Animais, plantas e micróbios são engenheiros experientes. Depois de milhares de milhões de anos evolução, a natureza carrega segredos de uma gestão eficiente de recursos para a sobrevivência. Os mecanismos naturais parecem funcionar melhor que muitas das tecnologias mais avançadas da atualidade, pois necessitam de menos energia, não produzem resíduos e nem deixam marcas. A criação de produtos, processos e modos de vida que estão bem adaptados à vida na Terra gera impacto positivo a médio e a longo prazo.

Em arquitetura e construção, a biomimética é uma corrente contemporânea na busca por soluções sustentáveis. Essas soluções podem contribuir para o processo criativo do projeto, com inspiração em padrões geométricos e matemáticos presentes nas formas orgânicas. É possível identificar proporções matemáticas na constituição dos seres humanos, animais e vegetais. Essas geometrias naturais são associadas aos conceitos de harmonia e equilíbrio.

Mas o objetivo da biomimética não é replicar apenas as formas, mas compreender como os organismos funcionam e se mantêm. Assim, busca-se a eficiência do edifício em termos estéticos, energéticos, mas também construtivamente, funcionalmente e em relação aos materiais empregados. Para ser verdadeiramente biomimético, o projeto deve se inspirar na natureza e levar em conta padrões estéticos, mas sempre deve ter como foco a ciência da natureza. A influência ocorre em um nível sistemático, estrutural ou estratégico. Essa corrente pode auxiliar na resolução sustentável de problemas em edificações como: iluminação, conforto térmico, eficiência energética, durabilidade e produtividade.

Um dos intelectuais da arquitetura biomimética é o arquiteto inglês Michael Pawyl. Em uma palestra na conferência TED, Michael defendeu que o conceito pode impulsionar o desenvolvimento sustentável na construção essencialmente por três motivos: radicalização eficiente de recursos, ciclos fechados e captação de energia solar.

A biomimética nas edificações quer replicar ideias inteligentes da natureza na concepção de projetos mais eficientes e harmônicos. Um dispositivo que capte água com microgotículas imbuídas de agentes de ligação, baseado na habilidade do besouro do deserto da Namíbia em captar vapor de névoas ou um edifício com refrigeração passiva tal qual um cupinzeiro são exemplos.

Estudiosos do tema, como a Doutora Cheryl Desha, professora de desenvolvimento sustentável da Universidade Tecnológica de Queensland, preveem um futuro em que cidades serão projetadas para serem mais parecidas e adaptadas a natureza: funcionais e resilientes, protegendo-as de alterações climáticas, poluição e vírus. O site asknature.org, é uma incrível plataforma sobre biomimética, que possui mais de 1,8 mil aplicações bioinspiradas para arquitetos e engenheiros em sua biblioteca on-line.

O design biomimético pode ser projetado considerando toda a forma do organismo, mas não precisa necessariamente seguir esse caminho. De acordo com um estudo da Roger Williams University, as principais formas de utilizar a biomimética na arquitetura são: arquitetura que imita as funções da natureza, arquitetura que imita as formas da natureza e arquitetura que imita as partes da natureza.

Arquitetura que imita as funções da natureza é aquela que emprega uma ou várias funções a partir de exemplos da natureza no projeto arquitetônico. Estes exemplos utilizam funções para adequação ao local, ao clima, ao consumo de energia entre outros fatores, sem prejudicar ou poluir o meio ambiente circundante.

A arquitetura que imita as formas da natureza extrai propriedades estruturais incorporadas no design das formas naturais. As estruturas naturais passaram por muitos anos de evolução. Elas apresentam um nível de perfeição que envolve a “tentativa e erro”. Estruturas vivas até hoje representam sucessos da natureza. Estes exemplos naturais fornecem uma serie de materiais inovadores e formas estruturais que têm a capacidade de lidar com a força climática e ambiental. Tais “desenhos superiores” são cruciais para o desenvolvimento arquitetônico inteligente.

Já a arquitetura que imita partes da natureza tem foco na extração de propriedades estruturais, formais ou funcionalidades a partir de exemplos da natureza, para a aplicação em componentes de construção. Este método pode ser usado para substituir o revestimento de construções e sistemas mecânicos, ou pode simplesmente ser aplicado como uma camada adicional ao sistema existente. O objetivo é elevar o desempenho da construção, resultando em eficiência e melhor adaptação ao meio ambiente natural.